O Centro de Convivência da Universidade de Caxias do Sul foi palco, nesta segunda-feira (17/11), do lançamento do livro “Culinária da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul”, escrito pelo reitor Gelson Leonardo Rech.
A obra apresenta um mergulho profundo na formação da gastronomia ítalo-gaúcha, destacando como hábitos, tradições e valores trazidos pelos imigrantes italianos moldaram a cultura alimentar do Estado, especialmente na Serra Gaúcha.
Rech fundamenta o estudo na forte contribuição da imigração italiana para a diversidade cultural brasileira no campo da culinária. Ele ressalta que a gastronomia nasce da necessidade humana de alimentar-se e de estabelecer relações com o ambiente. No percurso Itália–Brasil, marcado pela fragilidade das condições de vida e pela dura realidade enfrentada por trabalhadores braçais, os imigrantes carregaram consigo séculos de práticas e valores alimentares enraizados nas regiões de origem, conhecendo tanto a sobriedade dos pratos domésticos quanto o requinte das mesas de seus antigos patrões. Ao chegarem ao Rio Grande do Sul, encontraram um mercado restrito e a necessidade de adaptar receitas, substituir ingredientes e improvisar métodos de preparo, construindo equipamentos rudimentares e criando pratos que, com o tempo, se tornaram símbolos da identidade regional.
Experiência Italiana em Gramado na Serra Gaúcha
Segundo o reitor, a experimentação gerada pela necessidade de alimentar-se e de prover a família, somada à curiosidade natural de quem chega a um território desconhecido, deu origem a uma variedade culinária que se aperfeiçoou ao longo de mais de um século, preservando princípios fundamentais trazidos da Itália. Comportamentos, relações familiares e formas de convivência foram sendo reinterpretadas a partir da mesa, que passou a expressar tanto o sabor quanto o modo de viver desses grupos. A tradição alimentar, transmitida pelos avós e mantida como valor permanente, destaca-se pela valorização dos ingredientes locais, pela sutileza dos aromas e pela textura dos pratos que definem a culinária regional.
Rech observa que muitas das receitas passaram por adaptações motivadas pela necessidade e pela sazonalidade dos ingredientes, enquanto outras permaneceram como verdadeiros tesouros familiares, registradas em cadernos antigos ou preservadas apenas na memória afetiva. Ele destaca que recuperar essas práticas contribui para o patrimônio cultural coletivo do Brasil, fortalecendo a identidade das comunidades descendentes de imigrantes e reafirmando a importância da gastronomia como elemento de coesão social.
A obra também descreve a relevância da culinária da imigração italiana em três dimensões integradas: no plano cultural, ao identificar elementos autênticos dessa cozinha, compreender sua inserção na ecologia local e propor um roteiro confiável de preservação; no plano social, ao reconhecer práticas de raiz popular e evidenciar a diferença entre a culinária italiana globalizada e aquela elaborada no Brasil pelos imigrantes; e no plano econômico, ao destacar a criação de oportunidades para a produção de ingredientes e insumos adequados à tradição regional, além de reforçar o potencial da gastronomia como diferencial competitivo e como complemento ao turismo do vinho que se consolida na Serra.
O lançamento do livro reforçou a vocação da UCS como guardiã da história e da identidade cultural da região, promovendo conhecimento, resgate e valorização das raízes ítalo-gaúchas que influenciam a formação social e econômica do território até os dias de hoje. A obra de Gelson Leonardo Rech chega ao público como referência essencial para pesquisadores, estudantes, cozinheiros, famílias e todos que reconhecem, na comida, um elo poderoso entre passado, presente e futuro.
Crédito: MOBI CAXIAS